Aprovado pelo Senado, PL do Marco Temporal ameaça direitos fundamentais dos povos indígenas

Aprovado pelo Senado, PL do Marco Temporal ameaça direitos fundamentais dos povos indígenas

 

Aprovado na CRA do Senado, PL enfrenta resistência por restringir demarcações de terras ancestrais

A aprovação do Projeto de Lei 2903, conhecido como PL do Marco Temporal, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado, levanta sérias preocupações entre defensores dos direitos dos povos indígenas e organizações de direitos humanos. A medida, que agora passa para análise na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), tem sido alvo de debates intensos devido às suas implicações para os povos originários do Brasil.

Enquanto a votação na CRA resultou em 13 votos a favor e 3 contra o projeto, muitos críticos argumentam que o marco temporal representa uma ameaça aos direitos fundamentais dos povos indígenas. Kleber Karipuna, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), e outras lideranças indígenas, destacaram suas preocupações durante uma audiência pública que antecedeu a votação. Eles enfatizaram que a proposta está sendo conduzida com pressa, o que não permite discussões aprofundadas sobre seu impacto nas comunidades indígenas.

O projeto, anteriormente identificado como PL 490/2007, já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados, após um processo de tramitação que se estendeu por mais de uma década. No entanto, os críticos afirmam que a proposta, ao estabelecer critérios temporais para a demarcação de terras indígenas, pode resultar em retrocessos significativos nos direitos dos povos originários.

A APIB, em uma nota técnica, identificou oito pontos no PL do Marco Temporal que são considerados prejudiciais aos povos indígenas. Entre esses pontos, está a transferência da responsabilidade de demarcação de terras do poder executivo para o legislativo, uma medida que poderia comprometer a imparcialidade do processo. Além disso, a proposta permite a construção de infraestruturas em territórios indígenas sem a consulta prévia das comunidades afetadas, o que ameaça suas formas de vida e a preservação de seus territórios.

Outro ponto de preocupação é a possibilidade de questionar processos demarcatórios já estabelecidos, o que pode abrir espaço para a grilagem de terras e a despossessão de comunidades indígenas. A flexibilização do usufruto exclusivo dos territórios demarcados também é um ponto central de debate, já que isso poderia comprometer a integridade cultural e a subsistência dessas comunidades.

Vale ressaltar que o marco temporal é central em uma ação em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), que afeta a Terra Indígena Xokleng Ibirama Laklaño e os povos Xokleng, Kaingang e Guarani. A decisão do STF terá implicações amplas, definindo os parâmetros para futuras demarcações de terras indígenas no Brasil. O Observatório de Protocolos seguirá acompanhando e contribuindo com a luta em defesa dos povos indígenas e pelo veto do PL: Marco Temporal Não!

Diante dessas questões complexas e controversas, a aprovação do Projeto de Lei do Marco Temporal na CRA do Senado é um marco importante no debate sobre os direitos dos povos indígenas no país. A sociedade acompanhará de perto as próximas etapas desse processo, que tem ramificações profundas não apenas no âmbito legal, mas também na justiça social e cultural do Brasil.

 

Redação: Equipe de Comunicadoras do Observatório

Fonte: nota técnica APIB/Agência de notícias do Senado

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